10 de Agosto de 2000.
ela voltou de intercâmbio, você não dormiu de ansiedade. é sua melhor amiga, nada faz sentido na sua vida já fazem 11 meses. muita coisa não ficou clara, principalmente depois daquele beijo de despedida, do qual nunca coversaram.
você imagina a cena: ela chega na plataforma, radiante e linda, corre até você e explode em abraço no seu peito. os dois choram, choram e dizem o quanto se amam, e então tudo volta a fazer sentido. mas não é assim que acontece.
ela chega tímida, cabelo comprido verde, diferente. NÃO TE OLHA NOS OLHOS. ele, que já foi seu melhor amigo, o melhor que você jamais teve ou vai ter, está a menos de um metro de distânca, mas vocês não se falam, nem existem um para o outro. é tudo estranho, parece que o mundo perdeu uma peça importante e nada nunca mais vai funcionar direto.
almoçam e saem juntos, e se encontram por alguns dias. em um desses dias, no banco de alumínio da praça da savassi, você comenta:
- você não me olha nos olhos.
- eu não posso.
- por quê?
- porque eu te amo. - e ela chora.
é de fato a coisa mais bonita da sua vida. não que existam outras coisas tão bonitas na sua vida, mas nenhuma ultrapassa aquele momento. você é criança, não sabe o que fala, muito menos o que quer. teve todo um ano pra tornar sua cabeça um labiritno, até quis morrer. o que se pode fazer? então você a abraça, e ela chora lágrimas quentes na sua camisa velha. das lágrimas mais significativas da sua curta vida.
na mesma semana, se encontram de novo, na casa dela. ela vai descolorir seu cabelo, tem muito mais experiência que você nessas coisas. os dois riem, se divertem, se amam em cada carinho e piada. o mundo é o melhor lugar que existe agora que ela está perto.
aplicam o descolorante, ela coloca aquela toquinha de alumínio na sua cabeça. pelo espelho, você se acha parecido com um frango assado. e os dois riem de novo, e decidem ver aquela fita do cure que ela te disse.
é tudo muito lindo. na platéia, na multidão, um cara levanta uma paca escrita "CURE ME!", você e seu coração de manteiga se emocionam. é uma sensação estranha essa nostalgia de algo que nunca viveu... mas você viveu a ausência daquela menina linda que tanto ama, e chorou e se machucou ouvindo aquelas músicas. e todo o peso daqueles dias se condensam naquele segundo, enquanto na tv eles tocam from the edge of the deep green sea.
você chora. sente a lágrima morna escorrendo na sua bochecha direita. ela te percebe, ela te beija. tudo faz sentido. os dois se beijam, e choram juntos.
você a abraça forte, diz que tudo vai dar certo. tudo vai dar certo. tudo vai dar certo. tudo vai dar certo. tudo tem que.
- eu te amo. (é a primeira vez que teu coração fala tão claro)
ficam juntos pelos dois próximos anos de sua vida, os anos que foi vivo. dois anos dos quais cada tristeza teve seu sentido, e tudo construia e agregava. você se tornou melhor por ela. um dia se pergunta:
- sou feliz?
e surpreende com uma resposta positiva: completamente. não existe nenhuma outra mulher, nada precisa. você a ama, e sabe disso. deita sua cabeça no travesseiro com a tranquilidade dos amados.
mas um dia tudo acaba, e ela te troca por aquele se ex-melhor amigo, do começo da estória, que não fala mais com você.
durante seis meses, tudo o que você faz é merda, e todas as escolhas importantes terminam mal.
vai nessa festa onde tocam três vezes from the edge of the deep green sea, e tudo aquilo volta, multiplicado por todo o álcool da sua nova vida de vícios.
está sozinho, completamente sozinho. em uma casa escura, dançando em uma sala que não conhece, onde ninguém dá a mínima se você está vivo ou morto. ninguém sabe o que você sente, ou o que tudo aquilo te significa, e está entupido demais pra chorar. seria muito muito óbvio. o desespero.
percebe então que toda essa força que acredita ter não te sustenta em nada, se sente o perdido, preferia morrer. você ainda a ama, embora também a odeie. nunca vai saber como seria se a encontrasse novamente, e não importa no fim das contas, é passado. se sente um puta cara legal, um puta cara legal e sozinho, grandes merdas.
(você não tem fé nas pessoas, então faça um esforço pra acreditar em você. tenta ler aquele romance budista que te inspira, não há mesmo nenhuma esperança.)
a noite termina às 10 da manhã, se lembra que esteve muito bêbado.
no seu quarto, sozinho, finalmente consegue chorar. e o faz como uma criança faria.
uma criança sozinha.
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